Quando se fala em treinamento de alto rendimento, alguns princípios básicos devem ser considerados para que sua aplicação possa trazer os benefícios esperados ao atleta. Dentre estes, podemos citar: principio da individualidade, principio da sobrecarga, principio da periodização e principio da especificidade.
Todos têm grande importância na montagem de um ciclo de treinamento. Nesse artigo, daremos destaque a um dos mais importantes, o principio da especificidade do treinamento, ou seja, quanto mais especifico, melhor. Ele é, por muitas vezes, esquecido dentro de um programa de periodização onde se objetiva o aumento do desempenho no esporte, e isso acaba influenciando consideravelmente no resultado que se busca.
Diz respeito às adaptações que o corpo humano sofre em relação à atividade física ao qual é submetido. As adaptações se dão dentre inúmeros fatores. Alguns estão relacionados a ângulo de execução do exercício, metabolismo energético utilizado, substrato utilizado como fonte primária de energia, qualidade física utilizada, quantidade de músculos e articulações envolvidas no movimento. Sendo assim, a transferência dos benefícios adquiridos numa determinada atividade é precária em relação a outra. Por exemplo, o ganho de condicionamento aeróbio realizado na bicicleta ergométrica não será transferido ao condicionamento necessário para uma corrida.
O MMA caracteriza-se por uma diversidade de movimentos no chão, em pé, solto ou agarrado, e uma cinestesia única, freqüência intensa de trabalhos musculares assimétricos agonistas/antagonistas, movimentação espaço-temporal com alto nível de complexidade e utilização mista dos sistemas energéticos funcionais, dependendo do tipo de tática empregada em cada combate, um diferenciado do outro em detalhes singulares.
Com todos esses aspectos, o atleta, fica à mercê de vários fatores que fogem ao seu controle quase completamente. Dentre estes, o mais importante é a sua manutenção estrutural física e psicológica. Para melhorar o desempenho e diminuir os problemas, vale a máxima do “quanto menos, melhor!”, ou seja, “quanto mais especifico melhor”.
Uma das formas de reduzir o excesso de treino e especificar mais o treinamento é estudar as competições em suas formas de desenvolvimento, criando um mecanismo de estudo descritivo dos fatores que acontecem no momento da luta. Fazendo uma tabela de desenvolvimento de atuação, onde são coletados dados como o tempo de luta, ataques realizados por tempo fracionado (pode-se utilizar um minuto como padrão), técnicas utilizadas, lateralidade de ações etc., análises estas feitas tanto em relação ao(s) atleta(s) estudado(s) quanto ao(s) seu(s) adversário(s).
A análise das competições, através de “tabelas de desenvolvimento de atuação” (scouts), revela as principais características do desempenho vitorioso do atleta. Estas tabelas incluem o maior número possível de dados a serem coletados e analisados, que podem influenciar diretamente no planejamento e na estruturação dos treinos físicos em todas as suas fases.
É engraçado assistir, em pleno século XXI, com tantas informações e estudos ao nosso alcance, atletas rolando pneu de trator por vários metros, arrastando pela cintura enormes pesos, socando e chutando com caneleiras de 3 ou 4kg enroladas em seus antebraços e pernas, batendo manopla subindo escada e dando tiros de corrida. Agora pensem, será que esses atletas de lutas rolam seguidamente seus adversários ou os arrastam por vários metros dentro do ringue ou do tatame? É lógico que não. Eles antes de derrubarem costumam dar uma “corridinha” em volta do ringue? “Não” também deveria ser a resposta a todas essas propostas de treinamento, pois vai de encontro com o princípio norteador do treinamento de força que é o princípio da especificidade. Isto é, a aplicação do treinamento o mais próximo possível da situação real ou do gesto motor da atividade esportiva de competição.
Precisamos fazer uma análise das necessidades do atleta e assim montar um treino específico, baseado na especificidade da velocidade, da ação muscular e do grupo muscular, e baseado na especificidade do gesto motor e da tática/tipo de luta.
Se ao analisarmos as lutas do oponente, começarmos a treinar para evitar uma situação X, na qual nosso oponente faz muito bem, e ficarmos insistindo nesse treino de defesa, vamos criar nosso primeiro erro, pois deixaremos de treinar o ataque, pois vamos treinar para deixarmos o oponente chegar na posição X para assim podermos defendê-la. Ao invés de treinarmos a melhor posição do nosso atleta.
Se meu atleta tem como natureza o combate em pé, vou montar um treino voltado para ele se sentir confortável e confiante nas suas posições, ficando bem fisicamente no próprio “jogo”, e não baseado nos ataques do meu adversário.
Baseado nos scouts que eu faça do meu atleta, vou saber as necessidades dele para a luta, e assim ser totalmente especifico na hora de montar um treino físico. Se meu atleta tem a característica do nocaute, montarei um treino para que ele possa explodir buscando o nocaute por X segundos e consiga se recuperar Y segundos depois para poder explodir novamente.
Hoje em dia alguns atletas fazem um treino de “seleção natural” onde, quem sobreviver se sairá bem nas lutas, mas isso não quer dizer que o atleta está treinado. Nesses treinos, por muitas vezes, os atletas fazem circuitos de “muito de tudo”, correm, giram pneu, batem manopla, levantam pesos, fazem sparring e dezenas de outras coisas por três, quatro e até cinco rounds. Se pararmos para analisar o treino, nos minutos finais o atleta já esta morto, não consegue responder aos estímulos, e está totalmente lento. E é assim que ele vai se sair na hora da luta, pois treinou para isso, para ficar lento e morrer no final.
Se ele vai lutar 3 rounds se 5 minutos por um de intervalo, tem que treinar 3 rounds de 5 minutos por um de intervalo e só! Tanto no treino físico, como no treino de luta, nessas horas nem sempre mais é melhor, e sim quanto mais parecido com a realidade melhor. Se passarmos a fazer 4 ou 5 rounds de 5 minutos, vamos condicionar o nosso atleta a entrar na luta com dois “rounds de atraso”.
Aquelas tabelas de scouts que citei mais acima servem para montarmos o treino em cima dos 3 rounds de 5 minutos, o padrão do treino será o padrão de luta do atleta. Se a estratégia é “clinchar”, colocar para baixo, passar a guarda e finalizar, o treino físico deve ser montado para que o atleta possa repetir essa seqüência repetidamente nos 5 minutos sem cansar, sem ficar lento no final. O treino de pliometria, potência ou explosão, devem ser montados de acordo com os scouts. Se o padrão do meu atleta é de 5 entradas de quedas por minuto, e eu treinar 8, ele vai passar a ficar mais lento a cada entrada depois da quinta, pois o padrão dele é de somente cinco! Ou seja, em vez de ganhar velocidade ele vai ficar lento. Mais se eu passar a treinar somente as cinco entradas (seguindo o padrão dele durante a luta real) ele vai manter isto, com velocidade e sem cansar, e ai eu poderei treinar meu atleta para aumentar esse padrão.
Quanto mais o treinamento se aproximar da realidade da luta, melhor será o aproveitamento fisiológico do atleta. As adaptações neurais e funcionais estarão muito próxima da realidade dele, fazendo com que o aproveitamento do treino seja muito maior, e como conseqüência teremos uma melhora física durante a luta.
Estudar, pesquisar, evoluir e especificar, esse é o caminho para o desenvolvimento, ou alguém já viu maratonista fazendo levantamento olímpico ou nadador dando tiro de 400m?
*Ìtallo Vilardo é preparador físico de atletas de Jiu Jitsu, Judo e MMA. Para mais informações, acesse www.twitter.com/itallovilardo ou entre em contato pelo e-mail treinamento@itallovilardo.com.
Todos têm grande importância na montagem de um ciclo de treinamento. Nesse artigo, daremos destaque a um dos mais importantes, o principio da especificidade do treinamento, ou seja, quanto mais especifico, melhor. Ele é, por muitas vezes, esquecido dentro de um programa de periodização onde se objetiva o aumento do desempenho no esporte, e isso acaba influenciando consideravelmente no resultado que se busca.
Diz respeito às adaptações que o corpo humano sofre em relação à atividade física ao qual é submetido. As adaptações se dão dentre inúmeros fatores. Alguns estão relacionados a ângulo de execução do exercício, metabolismo energético utilizado, substrato utilizado como fonte primária de energia, qualidade física utilizada, quantidade de músculos e articulações envolvidas no movimento. Sendo assim, a transferência dos benefícios adquiridos numa determinada atividade é precária em relação a outra. Por exemplo, o ganho de condicionamento aeróbio realizado na bicicleta ergométrica não será transferido ao condicionamento necessário para uma corrida.
O MMA caracteriza-se por uma diversidade de movimentos no chão, em pé, solto ou agarrado, e uma cinestesia única, freqüência intensa de trabalhos musculares assimétricos agonistas/antagonistas, movimentação espaço-temporal com alto nível de complexidade e utilização mista dos sistemas energéticos funcionais, dependendo do tipo de tática empregada em cada combate, um diferenciado do outro em detalhes singulares.
Com todos esses aspectos, o atleta, fica à mercê de vários fatores que fogem ao seu controle quase completamente. Dentre estes, o mais importante é a sua manutenção estrutural física e psicológica. Para melhorar o desempenho e diminuir os problemas, vale a máxima do “quanto menos, melhor!”, ou seja, “quanto mais especifico melhor”.
Uma das formas de reduzir o excesso de treino e especificar mais o treinamento é estudar as competições em suas formas de desenvolvimento, criando um mecanismo de estudo descritivo dos fatores que acontecem no momento da luta. Fazendo uma tabela de desenvolvimento de atuação, onde são coletados dados como o tempo de luta, ataques realizados por tempo fracionado (pode-se utilizar um minuto como padrão), técnicas utilizadas, lateralidade de ações etc., análises estas feitas tanto em relação ao(s) atleta(s) estudado(s) quanto ao(s) seu(s) adversário(s).
A análise das competições, através de “tabelas de desenvolvimento de atuação” (scouts), revela as principais características do desempenho vitorioso do atleta. Estas tabelas incluem o maior número possível de dados a serem coletados e analisados, que podem influenciar diretamente no planejamento e na estruturação dos treinos físicos em todas as suas fases.
É engraçado assistir, em pleno século XXI, com tantas informações e estudos ao nosso alcance, atletas rolando pneu de trator por vários metros, arrastando pela cintura enormes pesos, socando e chutando com caneleiras de 3 ou 4kg enroladas em seus antebraços e pernas, batendo manopla subindo escada e dando tiros de corrida. Agora pensem, será que esses atletas de lutas rolam seguidamente seus adversários ou os arrastam por vários metros dentro do ringue ou do tatame? É lógico que não. Eles antes de derrubarem costumam dar uma “corridinha” em volta do ringue? “Não” também deveria ser a resposta a todas essas propostas de treinamento, pois vai de encontro com o princípio norteador do treinamento de força que é o princípio da especificidade. Isto é, a aplicação do treinamento o mais próximo possível da situação real ou do gesto motor da atividade esportiva de competição.
Precisamos fazer uma análise das necessidades do atleta e assim montar um treino específico, baseado na especificidade da velocidade, da ação muscular e do grupo muscular, e baseado na especificidade do gesto motor e da tática/tipo de luta.
Se ao analisarmos as lutas do oponente, começarmos a treinar para evitar uma situação X, na qual nosso oponente faz muito bem, e ficarmos insistindo nesse treino de defesa, vamos criar nosso primeiro erro, pois deixaremos de treinar o ataque, pois vamos treinar para deixarmos o oponente chegar na posição X para assim podermos defendê-la. Ao invés de treinarmos a melhor posição do nosso atleta.
Se meu atleta tem como natureza o combate em pé, vou montar um treino voltado para ele se sentir confortável e confiante nas suas posições, ficando bem fisicamente no próprio “jogo”, e não baseado nos ataques do meu adversário.
Baseado nos scouts que eu faça do meu atleta, vou saber as necessidades dele para a luta, e assim ser totalmente especifico na hora de montar um treino físico. Se meu atleta tem a característica do nocaute, montarei um treino para que ele possa explodir buscando o nocaute por X segundos e consiga se recuperar Y segundos depois para poder explodir novamente.
Hoje em dia alguns atletas fazem um treino de “seleção natural” onde, quem sobreviver se sairá bem nas lutas, mas isso não quer dizer que o atleta está treinado. Nesses treinos, por muitas vezes, os atletas fazem circuitos de “muito de tudo”, correm, giram pneu, batem manopla, levantam pesos, fazem sparring e dezenas de outras coisas por três, quatro e até cinco rounds. Se pararmos para analisar o treino, nos minutos finais o atleta já esta morto, não consegue responder aos estímulos, e está totalmente lento. E é assim que ele vai se sair na hora da luta, pois treinou para isso, para ficar lento e morrer no final.
Se ele vai lutar 3 rounds se 5 minutos por um de intervalo, tem que treinar 3 rounds de 5 minutos por um de intervalo e só! Tanto no treino físico, como no treino de luta, nessas horas nem sempre mais é melhor, e sim quanto mais parecido com a realidade melhor. Se passarmos a fazer 4 ou 5 rounds de 5 minutos, vamos condicionar o nosso atleta a entrar na luta com dois “rounds de atraso”.
Aquelas tabelas de scouts que citei mais acima servem para montarmos o treino em cima dos 3 rounds de 5 minutos, o padrão do treino será o padrão de luta do atleta. Se a estratégia é “clinchar”, colocar para baixo, passar a guarda e finalizar, o treino físico deve ser montado para que o atleta possa repetir essa seqüência repetidamente nos 5 minutos sem cansar, sem ficar lento no final. O treino de pliometria, potência ou explosão, devem ser montados de acordo com os scouts. Se o padrão do meu atleta é de 5 entradas de quedas por minuto, e eu treinar 8, ele vai passar a ficar mais lento a cada entrada depois da quinta, pois o padrão dele é de somente cinco! Ou seja, em vez de ganhar velocidade ele vai ficar lento. Mais se eu passar a treinar somente as cinco entradas (seguindo o padrão dele durante a luta real) ele vai manter isto, com velocidade e sem cansar, e ai eu poderei treinar meu atleta para aumentar esse padrão.
Quanto mais o treinamento se aproximar da realidade da luta, melhor será o aproveitamento fisiológico do atleta. As adaptações neurais e funcionais estarão muito próxima da realidade dele, fazendo com que o aproveitamento do treino seja muito maior, e como conseqüência teremos uma melhora física durante a luta.
Estudar, pesquisar, evoluir e especificar, esse é o caminho para o desenvolvimento, ou alguém já viu maratonista fazendo levantamento olímpico ou nadador dando tiro de 400m?
*Ìtallo Vilardo é preparador físico de atletas de Jiu Jitsu, Judo e MMA. Para mais informações, acesse www.twitter.com/itallovilardo ou entre em contato pelo e-mail treinamento@itallovilardo.com.
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